Maria Letra
Posts by Maria Letra:
TEMPOS QUE O TEMPO TE DEU

Era há tantos, tantos anos
que vivias por teu mérito,
cuidando sempre de ti...
que o tempo te ofereceu tempos
pra compensar contratempos
que, bem nova, conheci.
Resignada e sofrida,
tiveste, na tua vida,
enganos e desenganos,
mas esse tempo que amamos
sabia tu teres a crédito
milhões de afectos aqui.
Usaste esses tempos todos
até ao último dia.
Apesar de mil engodos,
minha Mãe, foste calmia
nos meus momentos de dor.
Deixaste em nós tanto amor!

Data da criação deste conteúdo:
2013-08-15
PASSADO, PRESENTE E PROJECTO DE VIDA

Percorri caminhos de palavras e de sonhos, alargando horizontes em solos estrangeiros, onde cada frase se tornava uma ponte de conhecimento de diferentes culturas e saberes. Residente no Reino Unido durante vários anos, regressei a Portugal num momento crucial da minha já longa vida e, tal como a saudade acelera decisões importantes, também a irreflexão precipita impulsos imediatos. Assim, antes que pudesse realizar o motivo que me prendeu àquele país durante tantos anos, deixei Londres para sempre.
Aconteceu, porém, que esta aparentemente má decisão culminou num profundo enriquecimento pessoal: o de saber lidar com a Resiliência. Trouxe do Reino Unido uma bagagem de palavras que se entranham em cada verso que crio, no lirismo com que vejo o mundo e que ofereço a todos os que comigo partilham a paixão pela poesia, mas, sobretudo, permite-me hoje não só perpetuar uma realidade, como também “escoar” recordações que dão aos meus dias momentos deliciosos.
PROJECTO DE VIDA
Amo a estrada onde caminho.
Não me importa onde irá ter.
Aprendi com o passado
várias formas de viver:
Viver com algo de um pouco,
viver com um tanto de nada,
amar o sol que me aquece
e deitar de madrugada.
E se mais eu puder ter,
eu quero ser candidata
a um projecto de vida
cujo fim não terá data.

Data da criação deste conteúdo:
2013-08-17
SERÁ A HISTÓRIA UM INDESEJÁVEL “MARCO DE TRANSFORMAÇÕES”?

Salvo raríssimas excepções, quando busco fontes de informação sobre o panorama político internacional, recorrendo à televisão ou aos jornais, fico absolutamente confusa e desagradada com tudo o que vejo ou leio. Dificilmente encontro uma fonte isenta, transparente e precisa. O que encontro é uma panóplia de manipuladores da verdade, defensores daquilo que, em franca realidade, considero ser-lhes conveniente moldar, à imagem e semelhança do que querem fazer do mundo.
Esta minha opinião é agravada pelos chamados “comentadores políticos”, os quais, em mesas de reuniões pluralistas, geram momentos saturantes, com resultados inconclusivos e, muitas vezes, até revoltantes, pelo ar com que se assumem como “detentores das soluções” que lhes serão convenientes.
Para além deste cenário, há uma realidade – direi já quase insuportável de digerir – travada entre uma segunda panóplia, a dos governadores e seus “complementos operacionais”, que seguem actuando à margem daquilo que convém à população em geral, e não apenas à de quem vive em absoluto conforto, não reclamando, portanto, seja o que for.
Entretanto, há também um cenário exterior, onde predomina uma atmosfera de ameaça do recurso ao uso de armas nucleares, defendido pelos “eternos poderosos”, caso aqueles que consideram não ter qualquer poder, ou mesmo os chamados ‘mexilhões’, não respeitem as imposições que desejam ver bem-sucedidas.
A completar todo este cenário permanente e insuportável, vão morrendo milhões de pessoas, como complemento de um ambiente de terror e de prepotência humanitária absolutamente condenável.
Segundo Lavoisier, “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Assim sendo, deveremos continuar a aceitar esta verdade, deixando que a História continue a revelar-se um abominável “Marco de Transformações”?

Data da criação deste conteúdo:
2025-01-31
DESFECHO DESEJADO
Não sei como te ocultaste!
Só sei que andei envolvida
uma parte da minha vida
em actos de muito contraste.
Hoje não consigo admitir
como, anos e anos… (tantos!),
presa aos teus falsos encantos,
tivesses coragem de trair.
Entretanto, vil desonesto,
amando à tua maneira,
enchias tua algibeira,
em jeito de muito honesto.
O teu plano saiu furado,
acabaste arruinado,
enquanto eu… tão lutadora,
saí forte e vencedora.

Data da criação deste conteúdo:
2013-01-16
EM CADA CANTO DE MIM
Em cada canto de mim,
tu és essência,
tu és paixão —
és felicidade.
Em cada canto de mim,
tu és ausência,
és solidão —
e és saudade.
Em tantos anos de espera,
foste ilusão,
deixando a dor
quando partiste.
Em tantos anos de espera...
todos em vão,
resta um amor
que não desiste.

Data da criação deste conteúdo:
2013-01-12
TU ME AMAS MAS EU NÃO
A lava do teu vulcão
queimou-me calmos desejos.
Não quero mais os teus beijos
nem tua louca paixão.
Sinto-me fria, a tremer,
acorrentada em teus laços,
fugindo dos teus abraços,
querendo não mais te ver.
Sedenta de solidão,
quero encontrar-me comigo
para auscultar se consigo
dar paz ao meu coração.
Não passaste de ilusão.
Foste dor em noites loucas.
Tu me amas mas eu não!

Data da criação deste conteúdo:
2011-01-17
QUANDO A MORTE TRAI A VIDA
Observando esta Vida
e o seu sentido profundo,
fico quase convencida
de que não domina o Mundo.
Nós fazemos um projecto
para um vindouro Amanhã,
mas a Morte, sem afectos,
revela-se assaz vilã.
São terramotos, são guerras,
guerrilhas, vulcões, trovões,
e um mar que galga as terras,
movido por abanões.
E, deste drama tão duro,
o que resta é um Passado,
com um Futuro inseguro...
face a um Presente marado.

Data da criação deste conteúdo:
2011-04-04
SEM SOLUÇÃO
Sigo procurando um fio
que se esconde não sei onde,
neste meu espaço vazio.
Faço uma busca infernal,
me agasto, me desgasto,
e me sinto muito mal.
Faço acordos com a vida;
quer respeite ou desrespeite,
nunca fico arrependida.
Depois, quando o sol se põe,
é que eu entro bem lá dentro
onde o meu ego se expõe…
Chego, então, à conclusão,
desiludida e sofrida...
que não tenho solução.

Data da criação deste conteúdo:
2013-01-21
TODA A CAUSA GERA EFEITOS
De barriguinha bem cheia,
cheia de tudo ou de nada,
eles aquecem corações
em cada fria alvorada.
Olhem seus olhos tão doces:
neles reside a esperança.
Não lhes cortemos acessos
ao mundo de cada criança.
Por culpa de alguns perversos,
são-lhes vedados direitos,
e o resultado... é a fome!
Toda a causa gera efeitos.

Data da criação deste conteúdo:
2013-02-03
EM BUSCA DA MINHA ESTRADA
Caminho num mundo estranho;
pra não ir só, me acompanho.
Eu vou comigo mas sinto
que parei num labirinto
cuja saída perdi.
Porém, nunca desisti,
e não é com esta idade
que deixo a minha vontade
perder-se desta maneira.
Enquanto estou caminhando,
meu corpo vai-se cansando,
mas, revendo os passos dados
em mil dias mal passados,
eu sou feliz por sentir
que ainda posso insistir
em seguir por uma estrada
sem qualquer encruzilhada.
Bastar-me-á persistir
no que pretendo atingir.

Data da criação deste conteúdo:
2013-01-29
UMA QUESTÃO DE FÉ
Gostava que me aceitassem
com a minha velha crença,
e que nunca a mal julgassem,
excessivamente intensa.
Cada um é como é,
quando se trata de Fé.
Duma crença limitada,
neste espaço onde me movo,
há muito que vem do nada
e dá vida a todo um povo.
Eu creio na Natureza,
tão bela quanto indefesa.
É que, num dado momento,
inventa-se outro cenário,
e o nosso convencimento
fica virado ao contrário.
Sigo feliz um Senhor
ao qual chamamos: AMOR.
De resto, tudo é incerto
nesta vida que vivemos,
pensando que o que está certo
é tudo aquilo em que cremos.
Por isto mesmo, eu respeito
quem respeita este meu jeito.
Vejam-me como um jardim
que acolhe qualquer flor.
O coração que há em mim
bem conhece a Fé no AMOR.
Só nessa vou caminhando,
as outras vou respeitando.
Com fé devota, girando
entre amor e Natureza,
vivo grata mesmo quando,
contra um mal, não há defesa.
Acolho, resignada,
qualquer mão cheia de nada!

Data da criação deste conteúdo:
2013-01-29
CUPIDO ATREVIDO
Me atrai a sua graça,
me enlaça,
me abraça,
deixa-me feliz.
Atento, Cupido,
atrevido,
assaz seduzido
pelo meu lado de actriz,
deixa-me sem jeito
e aproveita o ensejo
para conquistar-me
… e, quem sabe,
enganar-me.
Mas fico na minha,
entre fofa e fofinha,
feliz… mas sozinha.

Data da criação deste conteúdo:
2009-08-08
A DERROTA DO SEQUESTRADOR
Libertar-me de ti quisera, um dia,
mas não tinha coragem, amarrada.
Sabia muito bem no que incorria
se tentasse escapar, subjugada.
Rendida, diariamente, ao meu desejo
de manter-me alguém que não desiste,
perdia, em cada hora, um bom ensejo
de libertar-me do mal que me infligiste.
Há um tempo lento, durante o dia,
em que nada de oportuno se conjuga.
Vendo que o bom momento não surgia,
decidi-me programar a minha fuga.
Num ímpeto de arrojo e de coragem,
propus-me renunciar ao subjugar-me,
e iniciei, sozinha, uma viagem
planeada no sentido de libertar-me.
Foi longo o tempo de espera e de incerteza;
na ânsia de rever quem me apoiou,
sentia muito bem que esta proeza
podia acabar mal, mas resultou.
Passei anos e anos numa luta
tão incessante quanto perturbante,
mas foi a solução absoluta
para viver a vida, doravante.

Data da criação deste conteúdo:
2025-01-21
REFLEXOS DA MINHA VIDA
Penso naquele tempo de mel e de vinagre,
tão insensato quanto ponderado e acre,
e sinto a mudança enquanto, já idosa,
cada nuvem negra se tornava cor-de-rosa.
Deixei, adormecidas, memórias dum passado
descrito num simples diário ocultado
de alguém que gostaria de saber quanto sei.
Houve muito que, ignorando, ultrapassei.
Resignada, serena e sem algum remorso,
comandaria a minha vida sem esforço,
se na minha alma pesar ainda houvesse.
Presentemente vivo sem mágoas, com amor,
mas filtraria de novo ulterior rancor,
se a resíduos cruéis ainda cedesse.

Data da criação deste conteúdo:
2025-01-19
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INFORMAÇÃO
Art.º 37.º da Constituição da República Portuguesa
Até quando nos será permitido o livre pensamento e a sua divulgação pública?
Até quando poderemos usar o manifesto como um marco de uma posição pessoal, em determinado momento, sobre um assunto que consideramos da máxima importância para a sociedade em geral?
Perante uma evidente posição tendenciosa ou desprovida de fundamento positivo da parte de um governo, creio ser lícita a publicação de um manifesto – nunca com um objectivo impositivo por parte de quem o elabora, mas apenas como manifestação pessoal, traduzindo o julgamento de alguém.
É notória a existência de uma tendência para uma viragem à direita, em certos países. Consequentemente, perante essa ameaça, o panorama político desses países, onde a democracia é defendida – maioritariamente ou não – começa a alterar-se, agitando as forças antagónicas na tentativa de travar o avanço da direita. A história não me parece resultar como experiência, porque quando as “águas se agitam”, surge o desespero que gera o caos e, no auge dessa agitação, aparecem os defensores do regresso ao que consideram ter sido positivo, sem considerarem os males que causaram, em paralelo.
Conclusão pessoal:
Prevalece, na história, o saudosismo de um passado que julgo pouco tenha ensinado. Acredito que não existirá nunca um aproveitamento benéfico dos factos que a história relata… até porque dependerá sempre do seu autor e de como tais factos são relatados. Tudo isto envolve um jogo de interesses que, pessoalmente, considero ignóbil, pois gerará sempre uma competição de forças que pode dar lugar a uma guerra atroz e ao risco evidente - e consequente - de perdas de vidas humanas.

Data da criação deste manifesto:
2025-01-14
A FLOR DO CAMINHHO
Entre pedras de um caminho,
nasceu esta linda flor.
Eu não sei se por amor
ou por respeito e carinho,
quem vai passando por lá
não ousa sequer tocar-lhe,
talvez para não roubar-lhe
a vida que nela há.
Oh! Quem me dera ser cuidada
como essa flor de rua,
ser companheira da lua
e do sol ser namorada!
Mas o tempo da existência
é efémero, sem prazo.
A morte é fruto do acaso
ou tem tempo de vigência?

Data da criação deste conteúdo:
2025-01-11
VAI EM FRENTE! NÃO TEMAS!
Avanças presa a um passado
que não consegues esquecer.
Transpõe os teus obstáculos!
Cada passo que dás em frente
é para avançar. Não pares!
Apoia-te em sustentáculos
que revigorem a mente,
para voltares a viver.
Enche a alma de esperança.
Quem bem luta, sempre alcança!
O que para trás ficou...
...não recordes. Acabou!
Esquece quem te fez mal,
ousando tua vida perturbar.
Para além do que é verdade,
há um mundo surreal
que esconde um vasto mar
de hipocrisia e falsidade.
Confia no futuro que te espera!
Não ajas à toa; pondera.

Data da criação deste conteúdo:
2019-03-03
NUNCA MAIS
Num baú antigo e tosco,
vejo um transparente fosco,
num mar de recordações.
São sombras das ilusões
que pintei com o verniz
da vida que tive e quis.
Estão enlaçadas num todo;
fazem parte do engodo
de um passado que não sigo.
Procuro-te e me castigo
por penosas concessões
às tuas violações
daquilo que sempre fiz.
Secaste-lhes a raiz.

Data da criação deste conteúdo:
2022-04-12
AUSÊNCIA DE ÉTICA E DE MORAL EM CERTA IMPRENSA
Gozar com a desgraça de alguém
é sadismo que não convém.
Há perguntas inconvenientes,
feitas por inconscientes,
que chego a ficar chocada,
estupefacta e revoltada!
Vejamos só este caso,
escolhido por mero acaso.
Acaba de ser anunciado
que alguém foi assassinado.
Perguntam a um seu parente:
– Por favor... como se sente?
Se fosse eu a questionada,
responderia, perturbada:
– E você, seu atrasado?
Estaria melhor calado!
Sede mórbida de ver sofrer!
São perguntas a fazer?
Em vez de acalmar... corroem,
angustiam, não comovem.
A pessoa, magoada,
que está a ser entrevistada,
é invadida por gente
curiosa e incompetente.
Será que algumas revistas
pagam aos seus jornalistas
para explorar notícias
– eventualmente fictícias –
só para atearem chamas
em almas sedentas de dramas?
É que as perguntas que fazem
desagradam, não comprazem.
E quando um título atrai
numa notícia que sai,
falsa do princípio ao fim…
faço-me a pergunta assim:
mas que jornalismo é este?
Não haverá quem proteste?
A decência é fundamental
no jornalismo, em geral.

Data da criação deste conteúdo:
2020-01-09
O FARDO DA HUMANIDADE PERDIDA
Mais um ano decorreu, deixando para o próximo o pesado fardo de destruições maciças, execráveis na sua natureza, ceifando vidas e valores irrecuperáveis. Tudo porque alguém, algures, insiste em vencer, pelo uso da força, a batalha de interesses que a maioria da população mundial repudia.
Esse alguém vê nas armas um trampolim para alcançar o domínio absoluto, onde só existe deferência por si próprio, ignorando o respeito pela vida. A paz que proclama é uma ilusão apodrecida, que apenas reforça o seu sentimento de invencibilidade enquanto ser humano.
Nada na vida é eterno. Tudo será efémero enquanto persistir a ganância pelo poder absoluto sobre tudo e todos. O mundo precisa de valores comuns a toda a humanidade, onde o respeito pela individualidade e pela vida de cada ser humano sejam os alicerces imprescindíveis para a construção de uma paz duradoura.

Data da criação deste conteúdo:
2024-12-31
O DESTINO DA “GENTE”
O povo grita e pragueja
contra um governo impudente,
que se desculpa, gagueja
e não quer saber da «gente»!
Da «gente»… pois! E não só!
Ó meu Deus, vê lá… tem dó!
Na mente dos governantes,
enfatuados senhores,
nós não somos relevantes…
nós somos só pagadores!
O pobre está habituado
a ser sempre o condenado.
Enquanto ladrões, à solta,
vivem à grande, à francesa,
duma forma que revolta,
a «gente» vive na pobreza
dum miserável ordenado,
espremido e descontado.
Estamos cheios de conversas!
Queremos acções diversas!
Avancem com demissões,
um após outro, que a «gente»
quer ter, em vez de aldrabões,
um governo competente!

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2012-10-17
DESAFIOS DE UM “NOVELO” INFINDÁVEL
Escrevo, apago, volto a escrever; registo no papel ecos do meu eu, do que penso hoje a meu respeito ou do que gostaria de ter pensado no passado, antes de ter assumido certas posições que marcaram o meu futuro para sempre. Não gosto de negligenciar a forma como reajo perante cada obstáculo, tal como não devo "encher de pompa e circunstância" um acto aparentemente bem-sucedido que, com o decorrer do tempo, possa vir a revelar-se um fracasso. Será por isso, talvez, que começo a sentir-me frágil em cada momento em que tenho de tomar uma decisão importante, sobretudo quando essa decisão envolve o futuro dos meus filhos.
Presentemente, no meu dia-a-dia, faço o que posso, não o que gostaria de fazer. Vivo como posso, não como gostaria de viver. Deixo-me vaguear ao sabor do tempo e das minhas possibilidades. Para quê ordenar ou organizar ideias, quando hoje somos mais vítimas do tempo do que vencedores na corrida para alcançar um determinado objectivo? Quando pensamos que estamos quase a alcançar a vitória, cai-nos em cima mais um problema que, ao tentarmos ultrapassá-lo, acaba por nos deixar absolutamente desiludidos, levando-nos a perder a vontade de seguir a estrada da vida que escolhemos e a dar prioridade ao que é, na verdade, prioritário.
Hoje, já não sou a mulher lutadora e cheia de garra com que os outros sempre me identificaram, muito embora conserve ainda a pretensão da sua existência. Contudo, vivo-a sozinha. Sempre que posso, evito que os outros se apercebam dela, pois dura apenas umas curtas horas. Assim que percebo que se torna nefasta, encho o peito de ar e vou à rua dar uma volta, se ainda for cedo. Se não for, reduzo-me à insignificância que me foi atribuída pelo Universo. Só não danço porque teria vergonha de o fazer sozinha, não vá eu convencer-me de que estou a endoidecer. Todavia, como sempre acontece nas minhas santas noites, quando vou para a cama, durmo consciente de que tudo parecerá melhor no dia seguinte.
Desisto, por hoje, de alongar esta minha tentativa de escrever. Se insistir em continuar a procurar o fio neste novelo sem jeito, acabarei por sair desiludida. Pese embora nunca tenha sido mulher de desistências, o bom senso exige-me que tente desistir de continuar este manifesto de luta por extrair o que não encontro. Voltarei a tentar amanhã, no meu tempo livre.
Tempo livre? Quem ousará usar esta expressão quando se trata de velhos? É aquilo que lhes terá sido dado em maior quantidade, como condenação perpetuada no curto espaço daquilo a que teimam chamar existência…

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2024-12-16
APEGO À VIDA
O meu coração cansado,
por tanta pena sofrida,
bate forte, acelerado,
porque tem apego à vida.
Mil penas ultrapassou
– males infligidos sem dó –
mas fez de mim o que sou:
Mulher, Mãe e muito Avó.
Minhas ambições cederam
ao peso da minha idade,
mas o que os netos me deram
nem delas deixou saudade.
Mais anos virão ainda,
surpresas não faltarão.
Não há avó que prescinda
de outras formas de ambição.

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2012-09-16
CERCO AOS MARRETAS
Cansei-me de esperanças sem resposta,
de promessas vãs, tantas, tantas...
A paciência está às avessas,
exposta à dura espera sem sentido,
mergulhada num sonho comprometido.
Não me venham com tretas esfarrapadas,
de algum "algo" que virará o mundo.
Estamos cercados por marretas,
com ideias torpes e ódio profundo.
Querem poder, tudo mais que poder.
Pretendem, firmes, executar um esquema
que, a seu tempo, nos conduzirá,
sem dó, sem pena ou piedade,
à amarga verdade deste poema,
se não agirmos já!
Travemos nesses cretinos hostis,
corruptos, orgulhosos e servis
o mal que se preparam para fazer.
Querem voltar aos tempos de outrora,
sem hesitação e sem demora.
Facultemos às crianças, pois,
razão para serem felizes!
Com bons exemplos, plantemos
raízes sadias nas suas mentes.
ainda sãs, como queremos.
Urge fazer uma limpeza geral
em toda a Nação, sem hesitar,
para que nasça um novo Portugal,
onde o Amor floresça, vindo da alma
e do coração, sem sombra de mal.
Que nunca mais seja aspiração imposta
pelo medo ou pela repressão,
como na sombra do Estado Novo,
com seu rastro de miséria e consternação.
Jamais tal pesar no nosso povo!

Data da criação deste conteúdo:
2013-10-07
DE AMBIÇÃO EM AMBIÇÃO
A ambição é um desejo
de algo que não teremos,
mas que bem queremos ter.
Será justo ter o ensejo,
mas sem cair nos extremos,
desse algo mais obter.
Tal ambição… é demais
se muitas outras virão,
provocando o exagero
de querer cada vez mais.
Daí, então, resultarão
a crise e o desespero.
Se tu não páras a tempo,
tudo pode acontecer,
e, portanto, eu te aconselho:
antes dum mau contratempo,
tenta já retroceder
e olha-te bem num espelho.
Teus olhos estão esbugalhados,
teus cabelos muito fracos,
oleosos e sem jeito.
Os teus bens estão penhorados,
teus instintos são velhacos,
já ninguém te tem respeito.

Data da criação deste conteúdo:
2013-04-28
ENTRE O PASSADO E A INCERTEZA
Cada minuto que passa é uma corrida,
uma fuga à morte. Ela anda à solta.
Milhões de corações, presos à vida,
lamentam um passado que não volta.
Sentimo-nos felizes cada dia
em que vemos nova aurora despontar.
É tempo de reflexão e de vigília:
em cada canto há um vírus a atacar.
Entre milhares que sabem bem de tudo
e outros milhares que sabem bem de nada,
há formados na posse de um “canudo”
que se comportam de forma reservada.
E assim vai a Nação se adequando
ao caos do “prova aqui, prova acolá”,
e, sem certezas, vamos caminhando
na esperança de mantermo-nos por cá.
Muitos são aqueles que já não vivem,
e os que vivem tomam decisões
receando que aquilo que decidem
venha a resultar em más opções.
Só dentro de alguns anos, com efeito,
saberemos, de modo comprovado,
o que é que nesta crise foi bem feito
e o que é que, infelizmente, foi errado.

Data da criação deste conteúdo:
2021-07-27
CORRENTES DO TEMPO
Perturbam-me pensamentos
gerados daqueles tempos
de verdade e de certeza.
Em tudo havia pureza.
Alerta atento, pujante,
teimosamente, constante,
trava na minha memória
a nossa bonita história.
Mas o mundo, hoje diferente,
em que vivo o meu presente,
está longe do que vivi
quando estava presa a ti.
Correntes de falso amor,
num mundo de desamor,
anulam-me a tentação
de ser como era, então.

Data da criação deste conteúdo:
2024-12-04
O VIOLADOR DA CRIANÇA
O violador da criança
é um ser vil, sem mudança.
Não vejo como se cure
ou que a sua cura dure.
Sua perturbada mente
reflecte uma alma doente.
Ele espreita em cada esquina,
tem uma alma assassina.
O mal que ele faz à criança
deixa chagas como herança.
Moralmente... é um falhado!
Socialmente... um disfarçado.
Quanto a mim, defenderei
a franca mudança da lei.
Pena leve, com suspensão,
perpetua a violação.
Afirmo, desconcertada:
esta lei... serve de nada.
Sabemos que um violador
é alguém isento de amor.
Se da cela se libertar,
novos crimes vai perpetrar.
Não basta a besta ser presa,
se a lei carece de justeza.

Data da criação deste conteúdo:
2019-02-16
NO LIMIAR DO UNIVERSO
Deslizam como um rio de águas turvas,
feridas de um passado que me corrói.
No leito que as abraça, existem curvas,
jacentes de tanta mágoa que me dói.
Não fora o grande amor que tenho à vida,
não suportaria as dores que em mim ficaram.
Foram golpes que enfrentei, desprevenida,
mas segura dos lindos frutos que geraram.
Hoje, já no limiar de um patamar
a que nenhum de nós, jamais, escapará,
encaro a nova fase a repensar
como será que minha alma reagirá.
Enfrento o mundo em franca mutação,
carente de um grande bem assaz disperso:
a continuidade na humanização,
que gera paz e harmonia no Universo.

Data da criação deste conteúdo:
2024-11-30
PAZ CONTRA A INVOLUÇÃO
A involução que se verifica, no que respeita à necessidade de evitar a guerra,
seja ela de que forma for, pode conduzir ao recurso atroz do uso de
armamento nuclear como solução.
Na minha prespectiva, impõe-se a criação urgente de meios que conduzam
a uma revolução na mentalidade dos defensores da guerra,
através da qual ninguém sairá – ou sairia – vencedor.

Data da criação deste conteúdo.
2024-11-30
MEUS “MININO D’OURO”
Amo meus “minino d’ouro”
como a Noite ama o Luar,
o Dia, o brilho do Sol
e a Natureza... o criar.
São partes do meu Tesouro,
pedaços do meu Amar,
palpitando no meu peito
com ternura e com respeito..
É um bem que não se perde,
em terras de Cabo Verde.
Um pé... vai para a escolinha,
enquanto o outro... caminha!
Pé-coxinho também anda:
é a vontade que o manda!

Data da criação deste conteúdo:
2013-07-23
UM AMOR DE COR
Amo o teu sorriso de criança
e a tua pele da cor de chocolate.
Amo teu brincar que não me cansa,
mesmo que outro cansaço me maltrate.
Tu és inspiração na minha vida,
sempre que caminhando nesta estrada,
sinta que a coragem foi perdida
e esteja a vacilar na caminhada.
És poesia, és sonho, és a ventura
de quem desventurado se encontrar
em dias sem sol e sem luar.
Tu és suave brisa que me cura,
és inocência, luz e muito amor
ignorado por tantos sem valor.

Data da criação deste conteúdo:
2013-05-08
VIDA MINHA
Eu sou lua em tua alma,
sou arco-íris em teu pranto.
Sou loucura em noite calma,
sou voz em versos que canto.
Sou escuridão que iluminas
em madrugadas sem sono.
Sou aquela que fascinas
em tristes tardes de Outono.
Somos dois com um só querer,
sem limite, sem medida.
Somos dois seres num só ser,
Partilhando a mesma vida.

Data da criação deste conteúdo:
2013-02-06
A MIOPIA DE CERTOS SERES HUMANOS
Quando, há dias, alguém me disse que um dos meus poemas, intitulado "A Força do Trabalhador", escrito em 1985, me vincula à esquerda, politicamente, fiquei surpreendida. Naquela altura, eu já estava desligada de qualquer ideologia política que não fosse a de defender, acima de tudo, a boa formação de cada membro de um governo, para que a justiça social se tornasse uma realidade e não a pouca vergonha a que assistimos frequentemente. Estávamos - e estamos ainda - a viver a era do individualismo mais vergonhoso de que tenho memória, em que uma escandalosa maioria zela apenas pelos seus interesses pessoais, protegendo o próprio "umbigo". Esse umbigo parece estar enfiado numa redoma, como se assim fosse possível protegê-lo da usurpação de tudo o que considera ser seu e só seu. Só que, muitas vezes, esquecem-se de que a redoma é de vidro. O referido poema foi escrito em função daquilo que a minha sensibilidade me ditou… e nada mais. Haverá alguém que duvide da função importantíssima do trabalhador? Eu não mencionei no poema que defendo as opções políticas de certos — ou de todos — os operários. Tal abordagem seria um campo vastíssimo que transformaria esta simples nota num grande "calcanhar de Aquiles".
Quero, tão simplesmente, deixar claro o meu desejo de que não me sejam atribuídas tendências políticas que não defendo, apenas porque acredito que o operário tem um papel muitíssimo relevante na prosperidade económica de um país — isto para não mencionar muitíssimas outras áreas. O que seria das empresas se eles não existissem? Cada vez mais, é necessária uma boa formação profissional e cultural para que o operário possa sair do "status" em que foi colocado. A sua importância é tão grande que me parece mesmo indiscutível. Prefiro lidar com um operário competente do que ser confrontada com a incompetência de certos "doutores", enfarpelados e com gravatas ao pescoço em jeito de forca.
Causa-me náuseas ver esses indivíduos pavonearem-se pelas empresas, exibindo um ar de tamanha "importância" que chega a desagradar. E, quando os enfrentamos, humildemente, olhos nos olhos, para encontrar soluções para questões que a nossa honestidade exige resolvermos, deparamo-nos com um imbecil. Esse imbecil não exibe outra coisa senão obediência, óbvia e incontestável, às "regras do jogo" da empresa para a qual trabalha. Tais regras poderão até ser justificáveis e, consequentemente, aceitáveis por quem se submete a elas. O problema surge, porém, quando o funcionário faz o outro sentir-se miserável face à sua arrogância e excesso de prosápia, "depenando" argumentos de defesa que ofendem qualquer cidadão menos atento.
É evidente que, muitas vezes, um funcionário com essas características é admitido propositadamente, porque o seu perfil convém aos quadros da empresa. Ele possui tudo o que é necessário em obediência a um sistema organizado num determinado sentido. Além disso, precisa de trabalhar e receber o seu ordenado. Não é isso que fazem, também, as prostitutas? Aquilo que distingue uns dos outros é, entre outras coisas, uma questão de funções, cargos, preferências, integridade moral, opções e qualidade de vida.

Data da criação deste conteúdo:
2016-01-25
CUIDAI DOS LÍRIOS!
Os lírios, reis das flores,
têm um ar imponente,
enchem de cor os amores
e a alma de tanta gente.
Cuidai dos lírios! Atenção!
Há chacais por todo o lado,
atacam sem compaixão,
deixando o mundo chocado.
Há lírios abandonados,
com marcas de maus cuidados,
que ninguém vê. Quanta dor!
Ó gentes dum mundo insano,
cruel, vil e desumano,
mas onde está o Amor?

Data da criação deste conteúdo:
2019-03-28
QUISERA TANTO…
Quisera poder virar-me do avesso,
duplicar-me... Ser mais eu!
Ser urgência e ser excesso,
nunca ausência. Fazer mais
do que aquilo que já faço.
Estar presente, frente a frente
com a dor e, num abraço,
juntar a Fé, a Coragem
e tanto, mas tanto Amor.
Urge acalmar a maré
de raiva e de rancor,
que ronda por todo o lado.
Que mundo desnorteado,
onde quase tudo errado
não pode dar certo, não!
Vive-se a vida morrendo,
sem praticar o perdão.

Data da criação deste conteúdo:
2014-05-23
ENTRE TUDO E TODOS DE UM TODO
Do nada, formou-se, um dia, um Todo,
um Todo onde Tudo era perfeito,
no seu todo, sem defeito.
Mas esse Tudo passou a ser quase tudo,
pois, tempos depois, verificou-se
que era no "quase" do Tudo
que existia um problema.
Alguns dos Todos daquele Todo
queriam destruir o ecossistema,
desenvolvendo métodos
que poderiam destruir Tudo e Todos.
Entre esses todos,
alguns queriam o paraíso só para si
e, por isso, o Todo
passou a ser um todo imperfeito.
Se Todos fossem de bom jeito,
no Todo, Tudo seria perfeito.
Todos, naquele Todo, estariam bem.
O Todo, sem o imperfeito, seria soberbo.
Mas alguns de todos, naquele Todo,
que diziam seguir o verbo...
e outros todos, que não queriam saber do verbo,
foram abalados por esses alguns,
que querem dar cabo de Tudo.
Isso está já a acontecer.
Mas acreditem: é horrendo!
Os mais velhacos, desses alguns,
estão a destruir muito do que resta do Todo,
pois caíram no engodo.
Esses patifes, parte do Todo,
ora se fazem amigos dos outros todos,
para conquistar posição e dar cabo de Tudo,
ora revelam-se um grupo cruel,
prejudicando Tudo e Todos,
fazendo um Todo amargo como fel.
Malditos os todos
que tentam destruir o lindo Todo,
pois Tudo e Todos estão a sofrer.
Se continuarem a atacar Tudo e Todos,
o resultado será fatal.
E, assim, os restantes Todos
morrerão sem ver mais nada do Tudo,
que era lindo, neste Todo.

Data da criação deste conteúdo:
2011-01-04