Fazendo uma busca na internet sobre poesia orfã *, encontrei uma que senti ser mais uma lindíssima reflexão, do que outra coisa. Portanto, reflecti - como aliás o texto aconselha – sobre a impressionante velocidade do tempo durante as diferentes etapas da minha vida, velocidade essa que, na minha idade actual, relembrou-me uma série de projectos que tinha em mente executar sem pressas, sem grandes preocupações.
Depois da leitura de “Dança Lenta”, passei a temer a morte que se aproxima a grande velocidade. E passei, também depois desta leitura reflexiva, a meditar sobre o meu desejo de completar tudo aquilo que tenho, ainda, por fazer, sentindo, intensamente, que a minha ansiedade foi agravada. Desacelerar como, se eu sinto o vento que essa velocidade gera, bater-me de frente?
Existe uma considerável polémica sobre quem é – ou quem teria sido - o autor desta reflexão. Não tendo eu “ferramentas” que me permitam concluir seja o que for sobre este assunto, limito-me a transcrever o que li, com o devido respeito por quem, tão sabiamente, controlava a sua existência.
* Poesia que, por qualquer contingência, perdeu o pai ao nascer, e foi adoptada, ou perfilhada mais tarde, por um pai verdadeiro, ou por um ou mais meros interessados em usá-la.
DANÇA LENTA
Alguma vez você já viu crianças brincando de roda?
Ou ouviu o som da chuva batendo no chão?
Já seguiu o vôo errático de uma borboleta?
Ou olhou para o sol dando lugar à noite?
É melhor desacelerar; não dance tão rápido.
O tempo é curto e a música acaba.
Você passa batido por cada dia?
Quando você pergunta: como vai você?, ouve a resposta?
Quando acaba o dia, você se deita em sua cama
Com a próxima centena de tarefas percorrendo sua cabeça?
É melhor desacelerar; não dance tão rápido.
O tempo é curto e a música acaba.
Alguma vez disse a seu filho, pode ser amanhã?
E, na sua pressa, percebeu a tristeza em seu rosto?
Já perdeu contato e deixou morrer um amigo
Porque nunca teve tempo de ligar e dizer “oi"?
É melhor desacelerar; não dance tão rápido.
O tempo é curto e a música acaba.
Quando você corre para chegar a algum lugar
Perde metade da graça em chegar lá.
Quando se preocupa e atropela seu dia
É como um presente que vai pro lixo sem ser aberto.
A vida não é uma corrida. Vá devagar.
Ouça a música antes que ela acabe.
O meu conselho:
1. Se ainda é novo, desacelere agora. Respeite a preciosa oportunidade que lhe deram de viver. Tranquilamente, procure realizar sonhos ao ritmo do correr de um rio limpo de impurezas. Ele irá, sem dúvida, terminar num mar abundante, para o qual o passado de cada rio não é importante.
2. Se já não é jovem, interiorize a necessidade de respeitar o facto de estar vivo e, sem agitações, vá fazendo o que puder, pois poderá não ter quem saiba o que tinha programado executar no tempo e, consequentemente, não haja quem queira assumir, por si, o acabamento seja do que for.
Data da criação deste conteúdo:
2023-09-14
Autor da poesia: desconhecido