Solto a minha cansada mente e deixo que me lembre daquele tempo em que brincava muito feliz, muito contente por tudo e por nada. Chegava a ser insensata. Eram tempos de prata! Fazia rir toda a gente, ora imitando, ora dançando, ora falando com as paredes, minhas amigas que, pacientes, mudas e surdas, deixavam que lhes dissesse tudo aquilo que eu quisesse. “Amiga, a fruta estava caríssima, e o mercado… cheio de gente!” Aquele trajecto que a minha mente, lesta, consente, estou recordando e derramando gotas de sal, porque a saudade faz muito mal! Busco defesas. Recordo, em fila, aqueles momentos, ano, após ano. Seis filhos tive. Tive os que quis. Daí em diante é pra esquecer. Contudo, neste meu fado que guardo, muda, houve episódios de grande luz que iluminavam a minha mente. Virei a página. E aquela dor que a minha alma ainda sente, muito pesada, não vale nada. Foi a herança que me deu força e tanta esperança. Os meus bons filhos foram sarilhos, muitos cadilhos, mas são tesouros. Deles nasceram catorze netos, e ainda uma menina que brilha, como uma filha. Ponto final! Eles são meus netos! Com eles partilho grandes projectos para o futuro que será deles. Sim, que do meu… o que sei eu?!