Às 09h:50m, tinha aterrado em Londres, vinda de Portugal. Estava de regresso a minha casa, com um tempo de arrepiar qualquer frágil pardalito que ousasse voar nesta típica atmosfera húmida e fria. Feita pardalita-mor, tive coragem suficiente para, depois de tomar um reconfortante pequeno almoço, no aeroporto, meter pés ao caminho, enfrentando um nevoeiro pestilento, e partir para a segunda etapa da minha viagem, em direcção ao meu ninho de prata.
Deixei as duas malas, maiores e mais pesadas do que eu, e fui direitinha para o supermercado Sainsbury's, comprar aquilo que não havia na despensa para alimentar este corpinho que, em silêncio e com um sorriso nos lábios, teve a distinta arrogância de recusar o que a sua cabecinha pensadora disse, de si para si: " Vai mas é dormir um pouco, que o teu mal é sono!
Enganei-me redondamente. Ainda arrumei um trolley de mercearia e mais cinco sacos que não sei como consegui levar até casa, sob o olhar espantado do condutor do autocarro, que me observava pensando: "Esta aqui deve ser passada dos carretos"!...
Como boa fadinha do meu lar, enchi a máquina de lavar roupa, pus-me a limpar o interior do frigorífico, para colocar nele o que comprei, e fui preparar qualquer coisa para o almoço. Estava exausta! Tentava em vão combater este meu teimoso carácter virginiano, mas era superior a mim disfarçar o desconforto de estar sozinha em casa. Submeter-me ao repouso não fazia parte dos meus planos, quando a casa implorava limpeza. Tive de antecipar o meu regresso a Londres, por compromissos de trabalho, e sentia que a solidão estaria a corroer-me a mente. Sempre foi difícil para mim ir descansar sem que tudo à minha volta estivesse como eu desejava. Prossegui, portanto, nesta desnecessária pressa de restabelecer a ordem em casa, mas fui sentindo que valeria a pena ir descansar... e desvinculei-me da missão que, desta vez, não consegui terminar.
A avaliar pela minha confortável posição, na minha querida caminha, não me pareceu que iria dormir. Pensava, de mim para mim: - Não te ponhas a contactar seja quem for em Portugal pois a esta hora, estará toda a gente a ver as fastidiosas telenovelas da tarde. Pensarão, então, que estarei a escrever mais um poema ou a sonhar com uns deliciosos bolinhos de bacalhau que, tão cedo, não voltarei a comer. Será melhor ficar por aqui...