MULHER DE RESPEITO


Sinto, de verdade, ser mulher-feliz,
quando repenso em tudo o que fui capaz.
Fiz aquilo que, mal ou bem, sempre quis,
mal-grado, por vezes, carecer de paz.

Longos anos sofri de impensáveis medos,
não sei bem de quê, nem sequer de quem.
Criava cenários com muitos enredos,
e clamava ajuda à minha querida Mãe.

Na escola primária, a velha professora
invadia-me a vida gerando terror.
Malvada palmatória! Era ameaçadora,
martelava-me a mente com a palavra: dor.

Fui mulher-criança, tornei-me poetisa.
Venerava Camões e as suas poesias,
que eu declamava de forma precisa,
sem ponto ou ajuda servindo de guias.

Sofri violências em mulher-adulta.
Para defender-me e manter-me calma,
faço por escondê-la, discreta e oculta;
se escrever sobre ela, traio a minha alma.

Percorri quilómetros, voei noites, dias,
fiz exposições, programei visitas…
Ultrapassei tudo! “Um ver se te avias”,
a evitar estradas e zonas restritas.

E eis-me chegada a Mulher de Respeito,
com marcas antigas, mas mais indulgente.
Continuo activa, porém, de outro jeito:
vivo mais em mim, tornei-me prudente.


Data da criação deste conteúdo:
2025-10-08