MANIFESTO DIRIGIDO AOS RESPONSÁVEIS DA REVISTA “TELE NOVELAS”



Que o Estado não tome uma posição contra o abuso da violência de títulos e de imagens a que V. Ex.ªs recorrem para vender a vossa revista, já sabemos. Continuarei, porém, a bater na mesma tecla: a da inconveniência de tal abuso, o qual, através de uma posição mediadora entre o Governo e os Directores da revista, talvez pudesse conduzir a um consenso sobre essa matéria. Ainda acredito, piamente, que haverá muitos Pais, Avós e até pessoas que não têm filhos nem netos, que defenderão a posição que, pessoalmente, desejaria fosse tomada. Já temos tanta violência na nossa sociedade... para quê exacerbar ainda mais essa realidade? Em prol de um aumento de audiências? Escolham outra táctica. Somos um País de gente com muita inspiração e, consequentemente, não será impossível criar uma outra forma de chamar a atenção do público.

Quero deixar aqui bem claro que esta minha posição não tem nada a ver com as pessoas que apreciam telenovelas. Tem, tão somente, a ver com o facto de defender que deveria ser proibida a publicação de certo tipo de imagens em espaços públicos, e que não deveríamos ser sujeitos a suportar tal publicidade só porque os seus defensores têm interesse — ou necessidade — de aumentar o número de audiências ou vendas, seja do que for. Com tal tipo de publicidade, em vez de tentarmos travar o já tão elevado número de mortes ou de violência doméstica, acabamos por contribuir para o seu aumento, nomeadamente entre os mais jovens.

Não me parece estarem os responsáveis desta revista, ou outros que promovem vendas através do uso de imagens deste tipo, interessados em ver interdito o uso daquilo que lhes convém para atingirem os objectivos que pretendem. Tudo continuará na mesma. Tentarei sempre fazer o que puder, dentro das minhas limitadas possibilidades, para usar a minha experiência como mãe de seis filhos e avó de treze netos, lançando alertas que possam ser úteis na prevenção daquilo que considero negativo para a sociedade portuguesa, já tão afectada por casos amplamente noticiados.

Tenho ainda em memória um dia em que estava na paragem de um autocarro, com os meus filhos, no Largo Soares dos Reis, no Porto, onde havia um quiosque, perto da PIDE. Foi no tempo do apregoado Socialismo em Liberdade — creio que um slogan da autoria do Dr. Mário Soares — em que muita coisa condenável passou a ser permitida. Pois eu tive de sair daquele local para que os meus filhos deixassem de olhar, curiosos, para revistas pouco recomendáveis a menores. Daí julgar de toda a pertinência a criação de leis que proíbam certos abusos.

Penso na deterioração do comportamento de certos jovens — e não só — dada a libertinagem que se espalhou pela sociedade em geral. Pessoalmente, gostaria de ver pôr termo à escalada de violência que se pratica em Portugal. Continuarei, portanto, a insistir na necessidade de travar o cada vez mais recorrente uso da violência como solução de conflitos de todo e qualquer tipo. Obviamente, o que se publica na capa da revista Tele Novelas não representa, só por si, a causa da violência. Mas seria bom actuar em tudo o que possa, eventualmente, contribuir para a incitação ao crime. Com base nesta defesa da não publicação das imagens que referi, escolhi uma capa da revista onde a violência não fosse tão chocante.



Data da Criação do original deste conteúdo:
2023-09-24
Data da actualização deste conteúdo, dois anos depois:
2025-10-20
Imagem da Revista Tele Novelas