Esta manhã, vi um vídeo no YouTube em que uma criança, com apenas nove anos, falava da sua paixão pela música com tanto entusiasmo que captou imediatamente a minha atenção. Toca piano desde os três anos e foi a ouvir Frank Sinatra que começou a desenvolver essa paixão. Durante a curta apresentação, a criança afirmou que não tinha nada em comum com o pai e que este "não vestia calções". Apenas a mãe estava presente na audição, o que me levou a supor que a figura paternal não fazia parte do agregado familiar. Fiquei presa a este detalhe, atribuindo-lhe a importância que merece, mesmo reconhecendo que as minhas deduções se baseiam num curto espaço de tempo, no qual as poucas palavras proferidas me deixaram com muitas perguntas e nenhumas respostas.
A música, como sabemos, tem um papel fulcral no desenvolvimento cognitivo infantil. Estudos comprovam que o contacto com a música desde cedo melhora a concentração, a memória e a coordenação motora. A música torna-se, assim, uma linguagem poderosa, através da qual as crianças podem expressar-se e estruturar o pensamento. Feita esta breve introdução ao manifesto, avanço para o que me parece verdadeiramente importante. O caso que apresentei representa o levantar de um véu sobre pequenas grandes iniciativas que deveriam, globalmente, ser postas em prática em todas as creches e jardins de infância. Estes estabelecimentos têm a missão de substituir um elemento central na vida de uma criança: a Mãe, cujo papel exige uma profunda reflexão. Poderão ser encontradas alternativas à sua presença, em inúmeros casos até mais profícuas do que manter a criança ao lado de alguém emocionalmente ausente, que desconheça a importância crítica de um desenvolvimento mental saudável.
O vídeo que vi fez-me reflectir sobre a necessidade urgente de actuação. Partindo do princípio de que nem todas as crianças têm o mesmo grau de capacidade para apreender uma matéria, e de que não saberemos, à partida, para qual demonstrarão maior interesse, seria necessário começar pelo princípio: analisar, cuidadosamente, por que matéria a criança se revela interessada e, a partir daí, "alimentar a sua alma com esse fruto". Este conceito remete para a teoria das inteligências múltiplas, defendida por Howard Gardner, que postula que cada criança tem diferentes tipos de aptidões – sejam musicais, linguísticas ou espaciais, entre outras. A educação deve, portanto, ser ajustada a estas individualidades, de modo a garantir que o desenvolvimento da criança seja o mais enriquecedor e completo possível..