Sinto, de verdade, ser mulher-feliz, quando repenso em tudo o que fui capaz. Fiz aquilo que, mal ou bem, sempre quis, mal-grado, por vezes, carecer de paz.
Longos anos sofri de impensáveis medos, não sei bem de quê, nem sequer de quem. Criava cenários com muitos enredos, e clamava ajuda à minha querida Mãe.
Na escola primária, a velha professora invadia-me a vida gerando terror. Malvada palmatória! Era ameaçadora, martelava-me a mente com a palavra: dor.
Fui mulher-criança, tornei-me poetisa. Venerava Camões e as suas poesias, que eu declamava de forma precisa, sem ponto ou ajuda servindo de guias.
Sofri violências em mulher-adulta. Para defender-me e manter-me calma, faço por escondê-la, discreta e oculta; se escrever sobre ela, traio a minha alma.
Percorri quilómetros, voei noites, dias, fiz exposições, programei visitas… Ultrapassei tudo! “Um ver se te avias”, a evitar estradas e zonas restritas.
E eis-me chegada a Mulher de Respeito, com marcas antigas, mas mais indulgente. Continuo activa, porém, de outro jeito: vivo mais em mim, tornei-me prudente.