O GRITO AFLITIVO DA GAIVOTA


O dia estava fresco, acinzentado.
A pobre da gaivota esvoaçava
em busca de alguns restos de pescado.
E enquanto sobrevoava... grasnava... 

À ninhada, acabada de nascer,
não importava saber por que gritava.
Prosseguia, pipilrando por comer...
e a fome, entretanto, não passava.

Cansada de os ouvir, a gaivotinha,
solta um forte grasnar, tão estridente,
que acabou dorida numa asinha
e não pode voar mais. Ficou doente.

Arrastando-se, e bem contrariado,
surge o gaivoto, pai da pequenada.
Enfrenta a situação, desajeitado,
e decide, resoluto, fazer... nada! 

Alguém da vizinhança, vendo a cena,
decidiu ir socorrer os pequenotes,
oferecendo à mãe, que lhe fez pena,
pescado muito fresquinho... aos magotes!

O gaivoto nunca mais apareceu,
não sei se por enorme humilhação.
Isto foi o que vi dum sítio meu, 
com realismo em alta dimensão.

2023-04-14
Imagens: Olga Lioncat e Théo Lê
Montagem: Maria Letra