A MIOPIA DE CERTOS SERES HUMANOS


Quando, há dias, alguém me disse que um dos meus poemas, intitulado "A Força do Trabalhador", escrito em 1985, me vincula à esquerda politicamente, fiquei surpreendida. Naquela altura, eu já estava desligada de qualquer ideologia política que não fosse a de defender, acima de tudo, a boa formação de cada membro de um governo, para que a justiça social se tornasse uma realidade e não a pouca vergonha a que assistimos frequentemente. Estávamos - e estamos ainda - a viver a era do individualismo mais vergonhoso de que tenho memória, em que uma escandalosa maioria zela apenas pelos seus interesses pessoais, protegendo o próprio "umbigo". Esse umbigo parece estar enfiado numa redoma, como se assim fosse possível protegê-lo da usurpação de tudo o que considera ser seu e só seu. Só que, muitas vezes, esquecem-se de que a redoma é de vidro.

O referido poema foi escrito em função daquilo que a minha sensibilidade me ditou… e nada mais. Haverá alguém que duvide da função importantíssima do trabalhador? Eu não mencionei no poema que defendo as opções políticas de certos — ou de todos — os operários. Tal abordagem seria um campo vastíssimo que transformaria esta simples nota num grande "calcanhar de Aquiles".

Quero, tão simplesmente, deixar claro o meu desejo de que não me sejam atribuídas tendências políticas que não defendo, apenas porque acredito que o operário tem um papel muitíssimo relevante na prosperidade económica de um país — isto para não mencionar muitíssimas outras áreas. O que seria das empresas se eles não existissem? Cada vez mais, é necessária uma boa formação profissional e cultural para que o operário possa sair do "status" em que foi colocado.

A sua importância é tão grande que me parece mesmo indiscutível. Prefiro lidar com um operário competente do que ser confrontada com a incompetência de certos "doutores", enfarpelados e com gravatas ao pescoço em jeito de forca.

Causa-me náuseas ver esses indivíduos pavonearem-se pelas empresas, exibindo um ar de tamanha "importância" que chega a desagradar. E, quando os enfrentamos, humildemente, olhos nos olhos, para encontrar soluções para questões que a nossa honestidade exige resolvermos, deparamo-nos com um imbecil. Esse imbecil não exibe outra coisa senão obediência, óbvia e incontestável, às "regras do jogo" da empresa para a qual trabalha.

Essas regras poderão até ser justificáveis e, consequentemente, aceitáveis por quem se submete a elas. O problema surge, porém, quando o funcionário faz o outro sentir-se miserável face à sua arrogância e excesso de prosápia, "depenando" argumentos de defesa que ofendem qualquer cidadão menos atento.

É evidente que, muitas vezes, um funcionário com essas características é admitido propositadamente, porque o seu perfil convém aos quadros da empresa. Ele possui tudo o que é necessário em obediência a um sistema organizado num determinado sentido. Além disso, precisa de trabalhar e receber o seu ordenado.

Não é isso que fazem, também, as prostitutas? Aquilo que distingue uns dos outros é, entre outras coisas, uma questão de funções, cargos, preferências, integridade moral, opções e qualidade de vida.


Data da criação deste conteúdo:
2016-01-25