Fui amante de tesouros que, em verdade,
fui criando ao longo duma certa idade,
em que a esperança mantinha-se permanente...
Acreditava em tudo... porque inocente.
Eles seriam os meus escudos nas batalhas
perpetradas contra os eventuais canalhas,
que ousassem querer violar a minha mente.
Percorri a minha juventude consciente
do quanto era importante que o futuro
fosse bem diferente, e muito mais seguro.
Aquilo a que assisti, tanto em excesso,
virou todas as minhas vontades do avesso.
Mantinha-se, bem vincado, dentro do meu lar,
aquilo que, fora dele, estava a faltar.
Mas isso não chegava. Era bem pouco
neste mundo onde aquele que confiar, é louco.
Ganhei uma forte, bem vincada consciência
das nossas regras sociais, e da prepotência
com que somos, tacitamente, manipulados.
E a minha alma partiu-se, em mil bocados.
Hoje, atingida já uma certa idade,
não me bastam a força e a boa vontade,
para moldar o leito em que eu me aqueço.
Foram tantos aqueles sonhos, que não esqueço!
Viraram pesados, fugazes e mal dormidos,
tal como os anos de luta com fé vividos
que, pensando bem, nem sei se valerá a pena
continuar a sonhar com uma vida plena.
Recomeçar da base seria repensar
uma nova fórmula para tudo mudar.
Vejo o mundo a sucumbir no exagero,
com tanto de falso e tão pouco de vero.